Beatas de Cigarro
As beatas de cigarro são um dos detritos mais abundante em todo o mundo, estima-se que 4,5 triliões de beatas são depositadas indiscriminadamente no ambiente por ano. (Litter Free Planet, 2009). As amostragens do programa nacional de monitorização do lixo marinho nas 9 praias de Portugal continental também mostram que as beatas estão habitualmente no TOP 3 representando em média cerca de 20% da totalidade dos artigos recolhidos na área de 100 metros.
Muitas são as substâncias químicas utilizadas durante o processo de cultivo e crescimento do tabaco e produção de cigarros, resíduos destas substâncias podem ser encontradas nos cigarros que consumimos assim como nas beatas que descartamos. Nestas incluem-se: pesticidas, herbicidas, inseticidas, fungicidas e rodenticidas.
A matéria particulada (alcatrão) e o fumo, resultante da queima do cigarro podem ainda ser responsáveis pela introdução no ambiente de cerca de 4000 substâncias químicas, nas quais se incluem, monóxido de carbono, cianeto de hidrogénio, óxidos de azoto, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs), amónia, acetaldeído, formaldeído, benzeno, fenol, árgon, piridinas e acetona; mais de meia centena são comprovadamente carcinogénicos para os humanos. Além disso, substâncias químicas como arsénio, nicotina, PAHs e metais pesados são lixiviadas das beatas para o ambiente.
Os filtros foram incluídos nos cigarros na década 50 do século passado quando foi reportado que o alcatrão dos cigarros estava associado ao aumento do risco de cancro de pulmão. A ideia foi colocar o filtro para este reter os resíduos perigosos do alcatrão e nicotina, mas na realidade nunca funcionou tão bem quanto o esperado. Muitas das substâncias tóxicas conseguem escapar e entrar no sistema respiratório.
Recentemente a ciência identificou riscos adicionais associados ao resíduo dos cigarros; além das resinas que compõem o alcatrão do cigarro (charuto, cachimbo e tabaco de enrolar), o fumo do cigarro também liberta para o ar essas substâncias químicas que aí permanecem por algum tempo após o cigarro ter sido fumado, aderindo ainda às superfícies desses locais, fixando-se neles e continuando disponível no ambiente.
O tabaco é cultivado em mais de 100 países cerca de 80% do tabaco plantado é usado para produzir cigarros. (Fonte: “Toxicity of cigarette buts and their chemical componentes to the marine and freshwater fishes, Atherinops Affinis and Pimephales Promelas" Elli Slaughter Fall 2010, Universidade Estatal de San Diego, EUA)
O que é um filtro de cigarro?
(Fonte: https://www.verywell.com/world-cigarette-litter-facts-that-will-shock-you-2824735)
A maioria dos filtros de cigarro contém uma parte central em acetato de celulose que está envolvido em 2 camadas de papel e/ou fibra (rayon). O invólucro interno foi concebido para permitir que o ar flua através da parte central nos cigarros leves ou para bloquear o fluxo de ar nos cigarros regulares. O invólucro externo foi concebido para impedir a colagem aos lábios e ligar o filtro ao tubo do tabaco. Ao papel do cigarro são adicionados químicos para controlo da velocidade de queima e, carbonato de cálcio para branquear, em parte para criar uma cinza apelativa à medida que o cigarro queima.
A maioria dos filtros de cigarro – a parte que parece algodão é na realidade uma forma de plástico (acetato de celulose), a sua degradabilidade no ambiente é muito lenta. Dependendo do meio, o tempo de degradação de um filtro de cigarro pode variar entre 18 meses a 10 anos. As fibras de acetato de celulose no filtro do cigarro são mais finas do que uma linha de costura e um único filtro contém mais do 12000 dessas fibras.
Os filtros dos cigarros usados estão cheios de substâncias tóxicas conhecidas como alcatrão. Estes químicos são lixiviados para a terra e linhas de água, contaminando os organismos vivos que com ele contactem. A maioria dos filtros são descartados ainda com pedaços de tabaco a ele agarrado, poluindo o ambiente com a nicotina.
As beatas são leves e móveis, sendo levadas pelo vento e chuva até entrarem nos circuitos de águas pluviais, por exemplo através das sarjetas. As águas pluviais que vêm das sarjetas transportando milhares de beatas não são tratadas e terminam nos rios, oceanos ou praias.
As beatas descartadas representam uma ameaça significativa para a vida nos vários ecossistemas terrestre e aquáticos não só porque os organismos as confundem com alimento ingerindo-as mas também pelos incêndios que podem originar.